sábado, 9 de abril de 2016

IV Capítulo- Revelação inesperada


Um escravo serviu vinho a todos os homens que permaneciam acordados e na conversa.
João detestou o vinho mas fingia que o bebia. Pensou se era possível o homem da cicatriz, tivesse sobrevivido a tantos golpes.
Todos os homens cantavam, bêbados, em coro:

Cuidado com o gladiador
Quem não tem medo da morte
E quando toca ao amor
É o homem com mais sorte...

Quando todos os homens se foram deitar, João foi atrás de Terêncio (dono da estalagem) para saber como tinha ficado o senhor da cicatriz, que se chamava Énio. Terêncio disse-lhe que não tinha morrido, apenas tinha sacos de sangue de porco no peito, que é igual ao dos homens, na barriga, e outro junto da virilha, para que o publico pensasse que o gladiador tinha mesmo morrido.

Curiosidades: 
.Em Roma, naquela época já havia um sistema de esgotos e a grande parte das latrinas estavam ligadas à grande cloaca da cidade.


V Capítulo - Em casa dos Flávios

No dia seguinte, logo que se levantou, Orlando procurou alguém para lhe indicar onde era a casa do Senador Flávio. Fingiram ser parentes que vinham de Arpino.
Terêncio conhecia o Senador Flávio que já não via há muito tempo e por isso ofereceu-se para acompanhá-los a sua casa.
Orlando, João e Ana seguiram Terêncio pelas ruas estreitas de Roma, pelas Sete Colinas, apinhadas de gente que se deslocavam a pé, de cavalo ou de carroça.
Tentavam observar tudo o que viam,  ouviam e cheiravam. Ana e João comparavam alguns utensílios que as pessoas daquela época utilizavam  e o que eles utilizavam nos seus dias.
A casa de Quinto Flávio ficava na encosta do Monte Palatino, escolhido por muita gente rica para mandar erguer as suas belas mansões rodeadas de jardins e de muros altos.
Quando entraram, o porteiro conduziu-os através de um compartimento que tinha as paredes cobertas de caras de homens moldadas em cera branca, que eram as máscaras dos antepassados ilustres. Adiante, entraram num pátio interior rodeado de colunas e com um lago onde nadavam peixes vermelhos. Minutos depois, apareceu um homem robusto, sem rugas mas com pouco cabelo que os abraçou, contente por pensar que eram seus parentes.
Chamou pelo escravo Apolónio para que chamasse o resto da sua família. João e Ana pensaram logo que aquele escravo só podia ser o autor dos escritos que tinham lido em casa de Orlando. Era novo, de pele clara, olhos pretos, enormes e pestanudos.
Terêncio despediu-se e foi-se embora.
O Senador apresentou-lhes a sua mulher Paulina, que não passava de uma rapariga vulgaríssima,os seus dois filhos rapazes, de idade próxima de João e Ana, Cómodo e Camila, filhos de um anterior casamento e Lavínia, sobrinha de Paulina, que tinham adotado.
Mais tarde, apareceu na sala uma mulher lindíssima, que só podia ser a Sílvia. Era alta, loira, de túnica azul, muito elegante, de olhos azuis que cintilavam como se tivessem luz própria, o nariz era perfeito, boca grossa e rosada e cabeleira farta.

Houve um desentendimento, entre o Senador  e a sua ex mulher Sílvia, por causa dos filhos de ambos. Sílvia estava furiosa porque não os tinha entregue conforme estava combinado. Sílvia foi-se embora, com os dois filhos, e deixou para trás um terrível mal-estar e um cheiro intensíssimo a perfumes exóticos.

Curiosidades:
. Era costume nos Romanos, quando morria alguém da família encomendar uma luta entre gladiadores, pensavam que era uma boa maneira de agradar os deuses.





quarta-feira, 6 de abril de 2016

VI Capítulo - Confidências escaldantes

Logo que Sílvia e os filhos saíram, o Senador tentou desanuviar o ambiente, mas via-se que estava muito aborrecido com os disparates que ela disse.
Paulina estava sentada e muito pálida, tendo o marido perguntado se ela se sentia bem. Paulina respondeu-lhe que tinha a garganta seca.
Depois de ter bebido um copo de água, Paulina caiu redonda no chão, parecendo que estava morta, com a boca entreaberta, olhos fechados e gelada.
Orlando ao medir-lhe o pulso, viu que era apenas um desmaio, uma vez que o coração batia.
Depois do Senador ter levado Paulina para o quarto, ordenou a Apolónio que fosse chamar o médico de família, mas entretanto, Orlando disponibilizou-se a observar a doente enquanto o médico não chegasse. O Senador aceitou a proposta de Orlando.  
Os dois irmãos ficaram desconfiados das verdadeiras intenções de Orlando. Este ordenou que João e Ana fossem com Apolónio.
No quarto com Quinto Flávio, Orlando fez uma afirmação subtil, de que a causa do desmaio foi um ataque de nervos por ter aparecido Sílvia.
O Senador sentiu necessidade de desabafar e confirmou que ela ultimamente tem feito a vida deles num inferno.
Depois de ter chamado uma escrava para que acompanhasse o sono de Paulina, levou Orlando para um pequeno escritório, onde desabafou.Os mesmos desabafos que o Senador fazia com o Orlando, sobre a vida que teve com Sílvia, Apolónio também tinha com os dois irmãos na viagem que faziam até Roma.
Apolónio contou-lhe desentendimentos do casal, uma vez que dormia debaixo do quarto do Senador, e nas tábuas do chão havia uma frincha que permitia ouvir as conversas deles e por isso referiu que Sílvia queria divorciar-se porque tinha a mania das grandezas, e tantas foram as exigências que lhe deu cabo  da fortuna, tendo ficado com dividas. Foi então, que Sílvia propôs ao Senador que casasse com Paulina, que é riquíssima,
Paulina foi imposta ao Senador pela Sílvia porque este nem sequer a conhecia.
A intenção de Sílvia era que o Senador lhe fosse dando dinheiro nas visitas escondidas que lhe iria continuar a fazer sem que Paulina soubesse. O que ainda aconteceu por muitas vezes.
Entretanto, o Senador começou a gostar de Paulina  porque esta era doce e carinhosa, e a pouco e pouco, deixou de fazer visitas escondidas à Sílvia, passando a enviar o dinheiro suficiente para ela viver, pelo Apolónio.
Sílvia ficou furiosa com tudo isso, desconfiando Apolónio que esta quis matar Paulina, através do cozinheiro, para que o marido ficasse viúvo e rico, e assim pudesse voltar a casar com ele de novo.
Os irmãos perguntaram a Aoplónio porque nunca tinha contado a história ao Senador, este disse-lhes que não tinha provas e além disso era escravo pelo que não sabia o que lhe podia acontecer.
Tiveram uma ideia que era ir buscar o médico e pelo caminho, Apolónio lhe sugerisse que talvez Paulina tenha comido alguma coisa que lhe fez mal, que seria bom interrogar o cozinheiro.

Desataram a correr, e pelos azares, o médico não estava nem voltaria nos próximos dias porque saíra de Roma.

VII Capítulo - Plano audicioso

Ana propôs uma solução que era irem à estalagem de Florêncio,  procurar por Sara.
Então, assim o fizeram.Quando chegaram, o empregado disse que não estava ninguém na estalagem. Ficaram na sala de espera a aguardar por Sara. Enquanto lá estavam, o empregado foi às compras.
Apolónio como estava demasiado agitado pediu para que os dois irmãos ficassem lá enquanto ele ia procurar outro médico. Assim o fizeram.
Os dois irmãos ouviram duas vozes femininas através de uma frincha das tábuas do tecto. Ana captou a palavra "veneno" e João "morta". Imaginaram que pudesse ser a Sílvia a conspirar com a Sara ou com outra pessoa, para arranjar veneno para matar Paulina.
Pé  ante pé dirigiram-se aos quartos do primeiro andar para escutarem melhor as conversas. Concentraram-se de tal forma que não ouviram passos no corredor e apanharam um susto quando olharam para trás e lá estava Terêncio.
João e Ana contaram tudo o que tinha acontecido e a razão porque lá estavam na estalagem.
Terêncio contou-lhes que se tinha apaixonado por uma vestal*, de seu nome Metela, com a qual está impedido de falar, por isso preparou um plano para puderem ficar os dois, porque ela também sempre que sai do templo e vai para casa, o olha fixamente demonstrando igual sentimento por ele.
Contou que Sara fez um veneno para Rubila (cozinheira) levar para casa das vestais para dar a bebê-lo a Metela, para que parecesse que tinha morrido.
Quando as vestais a levarem para o lugar  onde se constrói a pira de madeira para queimar os cadáveres, Terêncio provoca um acidente.
Terêncio conseguiu arranjar o corpo de uma que tinha mais ao menos a mesma idade e o mesmo físico. Sara cortou-lhe o cabelo, pintou-o de ruivo, pôs-lhe a fita vermelha na cabeça e vestiu-a com uma túnica feita de tecido igual ao das vestais. Terêncio irá trocar os corpos. Quando o carro da Metela já estiver muito perto da fogueira, provoca um acidente, no meio da barafunda, troca os corpos e pronto!
Ana e João não tiveram a coragem de dizer que era um plano fenomenal.
Entretanto, Apolónio estava na porta junto de um médico. João e Ana saíram e desejaram sorte a Terêncio.
Quando chegaram a casa do senador, o médico foi levado até ao quarto onde Paulina continuava deitada e Ana e João foram à procura de Orlando.
Encontraram-se numa casa destinada a hospedes e aí contaram tudo o que Apolónio lhes tinha revelado e o que Terêncio lhes tinha dito.Orlando ficou varado.
Apolónio interrompeu-lhes a conversa e disse que o Senador os mandou chamar, era urgente.


*Vestal- são mulheres que não podiam falar com homens.

VIII Capítulo - O áugure e o voo dos pássaros


Quinto Flávio despediu-se do médico com muitos sorrisos e com gestos de amizade.
Paulina não estava doente, mas sim grávida de Quinto Flávio que estava ansioso para que fosse uma menina.
Quinto Flávio pediu a Apolónio que fosse chamar o áugure.
Era um homem alto, robusto que devia ter mais ao menos a idade do Senador.Vestia uma túnica e levava um bastão comprido e encurvado na ponta.
No átrio começou a cerimonia, que todos assistiam. O áugure ergueu o bastão e traçou um retângulo no ar com tal leveza e elegância que parecia desenhar riscos no céu. Ficou quieto e atento à espera que um pássaro ou um bando atravessasse o espaço que isolava.
Não tardou que surgissem três pombas. Era um sinal claro que se aproximava um acontecimento feliz. E acreditou que devia ser uma menina.
Todos ficaram felizes!
Paulina logo que se levantou foi até à sala com a escrava Florónia, que a servia desde sempre.Atrás delas, vinha a pequenina Lavínia que não percebia o que se passava mas como todos se mostravam contentes também se sentia feliz.

Curiosidades:
.Áugures - homens que todos consideram capazes de adivinhar o futuro através da interpretação de sinais da Natureza como o voo dos pássaros.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

IX Capítulo - Alea Jacta Est



Os Flávios, os seus escravos e os seus criados estavam muito alegres pela "boa nova", apenas os "parentes de Arpino" estavam receosos com o que poderia acontecer a Terêncio e à sua amada.
Cómodo e Camilo trouxeram a noticia ao Palácio que Metela (oriunda de uma família muito antiga de Roma), a vestal mais bonita, tinha morrido.
O plano de Terêncio estava em marcha!
Queriam todos ir ver o espetáculo, que é levar uma vestal para a fogueira para ser queimada.
Só Paulina é que ficou em casa devido ao seu estado de gravidez.
Orlando e os dois irmãos estavam apavorados com o que podia acontecer.
Junto à pira funerária, encontravam-se já várias mulheres, vestidas de preto, a chorar em coro, como se entoassem uma cantilena muito triste.
O carro coberto de panos pretos, avançava devagarinho em direção à pira de troncos, onde as vestais todas de branco seguiam-no em passo cadenciadas e muito chorosas. Entoava o ruído dos passos dos cavalos.
Dois homens enrolados em capas aproximaram-se da pira com enormes tochas acesas para acenderem a fogueira.
De Terêncio nada!
Também lá estavam os sacerdotes encarregues da oração e da colocação do corpo no seu último poiso.
De repente, um carro de cavalos apareceu todo descontrolado e em pânico todos gritaram de terror porque ia haver um acidente entre o carro de cavalos e o carro funerário.
Subitamente, surgiu, no céu, uma águia que se pôs a voar em círculos sobre a multidão. E logo, uma voz masculina gritou: "Júpiter, a  águia de Júpiter!".
Todos acreditavam que a ave de Júpiter vinha conduzir a alma de Metela até ao céu e esqueceram-se do carro de cavalos.
Passado um tempo, todos acalmaram e o funeral continuou.
Os dois irmãos foram para a estalagem de Terêncio. Estavam curiosos!
Terêncio levou-os para o seu quarto, onde estava Sara, um corpo inanimado e uma velhinha caquética. Era a Rubila já disfarçada, com uma cabeleira postiça e uma camada de cera na cara que lhe puxava a pele e a cobria de rugas. Estava livre!
Metela, ainda sob o efeito do veneno parecia um cadáver, já com o cabelo rapado, faltava apenas escolher a cabeleira postiça que lhe tapasse a cara.
Terêncio e Metela estavam felicíssimos.

Tinham que partir. Iam de barco. Desciam o Tibre até Óstia. Mudariam para um trirreme (navio movido a remos e à vela) que os levaria a um sitio que era segredo, até mesmo para João.


Curiosidades:
1. Alea Jacta Est - Quer dizer "os dados estão lançados" ou "a sorte está lançada". Frase utilizada em situações que não permitem recuo.
Foi dita por Júlio César que depois de conquistar Gália voltou para Roma e decidiu infringir as leis e ultrapassar o território que lhe tinham destinado. E ao fazê-lo proferiu aquela frase, depois de fazer não podia recuar.

 2. Júpiter - Deus de Roma.


X Capítulo - Experiências novas e velhas


No dia seguinte, Paulina convidou Ana para a acompanhar às termas de Roma. Escolheram as piscinas mornas em vez das quentes.
Lavínia também foi com elas e com a sua ama, Florónia.
Como Paulina pertencia às elites romanas não podiam ir a pé, como lhe apetecia naquele dia, tão soalheiro.
Teriam que ir com os escravos (muito musculados) na liteira.
O edifício das termas era no meio de um jardim que parecia um palácio. Era a hora das mulheres que andavam num corrupio, nas lojas, nas compras ou com os filhos pequenos e com as escravas que os vigiavam.
No vestiário deram de caras com Sílvia.
Lavínia foi inconveniente e dirigiu-se a Sílvia a contar que ia ter uma irmã para brincar com ela.
Sílvia alterou-se completamente. O sangue afluiu-lhe ao rosto e ficou quase roxa. Avançou até Paulina, deu-lhe um safanão no ombro e disse: "Diz-me que é mentira".
Paulina firme e calma respondeu-lhe que não lhe dirigia a apalavra, não estava disposta a falar da sua vida privada com ela, apenas com o seu marido.
Posteriormente, Paulina dirigiu-se à piscina, onde todas as mulheres tomavam banho despidas com a maior naturalidade.

João acompanhara Cómodo e Camilo a uma espécie de clube onde faziam treinos para corridas de cavalos.
Os estábulos eram excelentes e os cavalos um espetáculo. Por todo lado, havia bandeiras, fitas vermelhas e muitos homens vestiam túnicas vermelhas porque era a cor do grupo.
João queria tanto conduzir um carro de quatro cavalos (quadriga) brancos que vira!
Combinaram que seria Cómodo a conduzir e só passaria as rédeas a João caso este se sentisse preparado para tal.
Saboreando o vento, João teve uma das melhores experiências da sua vida, teve coragem de receber as rédeas para conduzir os quatro maravilhosos cavalos brancos.

Já o senador teve uma experiência velha. Recebeu Sílvia no Senado, que o envergonhou em frente dos outros Senadores, que até tiveram pena de Flávio.
Sílvia empurrara o ex marido para perto de uma fonte. Chamou-lhe de mentiroso, que a tinha enganado.
Pela primeira vez na vida, Quinto Flávio achou-a feia e desprezível.
Sílvia disse-lhe que não devia ter engravidado Paulina porque tinham combinado outra coisa. Apenas tinha casado com Paulina porque ela assim o quis.
Quinto Flávio respondeu-lhe: "Se queres saber tenho muita vergonha de ter aceitado o casamento com Paulina para lhe caçar a fortuna. Foi um ato indigno a que tu me levaste, mas há males que vem por bem. Fiz muito bem em me divorciar de ti porque és venenosa, uma víbora. Ao lado de Paulina sou um homem feliz. Segue o teu caminho e deixa-nos em paz".
E foi embora.
Sílvia jurou vingança.

Curiosidades:
. Liteira - Espécie de carruagem que em vez de rodas tinha uns paus compridos para serem transportados aos ombros. Lá dentro, tem bancos forrados a couro e almofadas de penas.